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Eu era criança, uns seis anos. Nos almoços de família, o marido da minha tia avó sempre me chamava pra “ver televisão” no quarto com ele, de porta fechada. Eu e mais três primas também pequenas. Às vezes juntas, às vezes uma de cada vez. Nunca contamos isso pra ninguém e, crescidas, nunca falamos sobre o assunto, é como se nunca tivesse acontecido. Por medo e culpa, claro. E ainda tenho que aguentar minha mãe dizer que ele era “doido comigo” quando eu era criança, ela nem desconfia. Ele sofreu uma isquemia e, atualmente, é alimentado por sonda, não consegue andar nem falar. Quando, raramente, me encontro com ele, ele pega forte na minha mão e fica me olhando com os olhos tristes cheios de lágrimas, como se estivesse pedindo perdão. Eu quero mais é que ele queime no inferno.