Maria Luz

Pois é, interessei-me por um oclega de trabalho, imaginem. Por interessada digo que sentia um atração física por ele e que queria saber mais de quem ele era, o que gostava, quais os seus planos, os pontos de vista… Sim, de facto penso que demonstrei o meu interesse, mas não de forma directa, convidando para um jantar por exemplo, porque fui educada a acreditar que uma mulher não o pode fazer. E assim, “indirectamente”, a coisa foi andando: com olhares, uma ou outro comentário mais explícito, algumas conversas online. Na minha cabeça pensei que em breve, talvez, houvesse desenvolvimentos (o tal jantar, mas por iniciativa dele claro!). Não, nada disso. Pelo contrário, fui recebendo alguns comentários menos próprios (Tens um grande rabo!), mas que fui relevando porque afinal “ele é homem, é normal” e que acabaram com ele a agarrar-me um dia (no tal grande rabo) , no nosso local de trabalho. “Tu não podes fazer isso”, disse-lhe eu. Dele veio um “Mas vais ao ginásio para quê? Não é para tocar?” que se seguiu de um momento de paralisação por incredulidade da minha parte. Não lhe falei nos dias seguintes, mas ele fingiu não saber o porquê. Depois disso, mudei de horário (por casualidade) e nunca mais o vi, mas ainda planeio fazê-lo ver o quão mal agiu comigo e, provavelmente, age com outras mulheres. Primeira conclusão: sexismo é um homem achar que por uma mulher ter demonstrado interesse nele a pode agarrar quando e onde lhe bem aprazer Segunda conclusão: sexismo é uma mulher aceitar comentários que a deixam desconfortável porque “eles são homens” e tudo é normal quando vem deles. Pior ainda, é ser assim tratada a ainda questionar se a culpa não terá sido sua. Terceira conclusão: sexismo é uma mulher ser educada a pensar que não pode dizer directamente a um homem que está interessada, mas sim enviar certos e determinados sinais que, no caso de o interesse ser recíproco, serão certamente correspondidos. Viu-se bem aqui como o foram…

Esmeralda

Já vivi em Portugal há quase 20 anos e me faz triste que só tem uma mulher de 2013 aqui. Portugal está bem atrás do resto da Europa. Já fiz muitos trabalhos só tive uma patroa. Em muitos trabalhos esperem que eu trabalhava 3 vezes mais que os meus colegos para compensar pelos seus defeitos. Fui dito que os homens não conseguem limpar as coisas como as mulheres. Os homens ganharam mais dinheiro que eu pelo mesmo trabalho. Fui perguntado em entrevistas se estou a planear ficar grávida no futuro. Na rua os homens estranhos fazem gestos e dizem coisas sexuais. Mas o que me faz mais triste é que as mulheres portuguesas parecem aceitar isso como normal, e até tenham medo de dizer ao contrario. Oiço as minhas amigas a queixar mas em fim não lutam para mudar a situação. Eu vou continuar a lutar e dizer coisas contra este sexismo mesmo se perco mais um trabalho e fico solteiro a vida inteira. Nós somos iguais, somos todos seres humanos e nós todos merecemos o direito de viver a nossa vida como queremos sem ser prejudicado por causa do nosso sexo.

Sara Oliveira

I’m 27. All the men that I dated, good or bad, long relationship or teenage fling had one thing in common: they all did, at some point, unrequested rough moves on me during sex. Fom slapping my ass without my permission, to shoving my head down mid-blowjob to the point that I almost threw up, grabbing my hair really rough, one even grabbed my neck and started to choke me. And lets not forget the modern classic: they all ask for anal (at least they ask for this one), one had the audacity of asking for it the second time we had sex. Now I consider myself a careful person and I chose decent people. Which is even more alarming, these were educated “nice” guys. I broke up with some of them because of their actions, some I tried to explain why it was wrong. But the point is, we shouldn’t have to explain how beating or brutalizing a person amidst what should be a pleasurable act is wrong. It’s not some kink all women have. It’s violence and humiliation. It led me to a point where I resent porn so deeply… and I’m slowly starting to resent sex. Whenever I start dating, the last thing I want to do is start having sex with that person. And I find it really sad.

Natália

Infelizmente, os meus encontros com o sexismo são tantos que nem me recordo de quantos foram (penso que não foram mais as ocorrências, porque (1)não estou dentro dos padrões de beleza estabelecidos pela sociedade, (2) sou de estatura pequena e há quem me confunda com uma criança, o que nunca foi impedimento para outras pessoas). Lembro-me porem de alguns: com 9 anos, fui apalpada por um colega de turma e ainda hoje sinto nojo quando penso nesse momento. com 15 anos, colegas de turma (rapazes e raparigas) acham normal dar, de vez em quando, umas bofetadas no meu rabo. Esta situação mudou quando ameacei colocar um alfinete no bolso de trás das calças. (Há casos que necessitam de medidas drásticas.) com 19 ou 20 anos, ia no autocarro em pé e um homem (com idade para ser meu avó) roçou-se em mim, com a desculpa de não haver espaço, até pediu “com licença”. Só depois de acontecer é que me apercebi do que ele tinha feito. Mais uma vez ainda sinto a repulsa desse momento. Fora isso, são as situações “normais”: buzinas de carros, homens que nos perseguem com o olhar, “olá, princesa”, assobios,…

Joana

É algo garantido em Portugal uma rapariga/mulher ser apalpada na rua pelo menos uma vez na sua vida.

M.

Hoje tenho mais de trinta… mas na altura teria entre 13 e 16 anos e andava de autocarro todos os dias para ir para a escola. Muitas vezes o autocarro ia com excesso de passageiros, as pessoas coladas umas as outras. Uma dessas vezes um homem apalpou-me descaradamente durante algum tempo. Se fosse hoje eu defender-me-ia de imediato mas na altura fiquei sem reação e sem perceber o que realmente se estava a passar. Para o tal homem essa falta reação significou talvez que eu estava gostar pois quem cala consente. Mas a verdade é que era muito ingénua e de uma família muito conservadora. Hoje tenho um filho e espero conseguir alerta-lo para essas situações. Vivi outros episódios de assédio na infância,noutros contextos, e isso deixa marcas. Nunca fui capaz de contar a ninguém.

Maria

My name is Maria and I am 18 years old, from Portugal. Around 2 years ago, every single morning on my way to school I used to see this guy (older guy, late 30’s) who would say good morning to me everytime we would see each other on the street. In the morning the streets that I pass are from the suburbs and normally theres no people on the street.The first time he said hi i thought to myself maybe he knows me and i don’t remeber him. But them i remeber that I had never meet this guy and I just ignored him as usual. One of the mornings on my way to school this man goes on this street and I thought “thank you god” but them he turns around and sees me and stars runing in my way I run fast As I can I thought he was going to rap me in that moment but them I saw a lady that Was walking her dog and that saved me. He turned around as soon he saw me near that lady and i was so embarrassed and scared to tell my parents. Thank you for your blog and wisdom words.

S

Já passei por muitas experiências horríveis por causa de homens machistas e nojentos. Uma delas aconteceu uma manhã bem cedo, a caminho do metro, quando estava a passar por um pequeno túnel, um sítio por onde passava todos os dias e onde nunca me tinha acontecido nada. Estava distraída com os meus pensamentos e não me apercebi que estava um homem dentro do túnel. Quando me aproximei dele (nessa altura ainda não sabia se era um homem ou uma mulher), dei finalmente conta de que não estava sozinha e olhei para ele. Ele estava a olhar-me fixamente e a masturbar-se e começou a dizer coisas nojentas e a pedir-me que lhe fizesse coisas. Fiquei tão assustada que desatei a correr e só parei quando cheguei ao metro. Nunca mais esqueci esta história.

Sara

Isto não é um problema muito grave mas eu sinto que também tem a ver com sexismo, neste caso, a opressão das mulheres. Em minha casa é comum fazermos uma limpeza geral todos os fim-de-semana, ou seja, eu e a minha mãe limpamos a casa de cima a baixo. O meu pai e irmão ficam a ver televisão ou no computador, não pelo facto de eles não saberem fazer, mas sim porque eles sao homens e nós mulheres. Não só eles deixam essas coisas todas da casa para nós,como ainda reclamam se alguma coisa não estiver do seu agrado. O que eu não acho justo mas a minha mão até encoraja este comportamento. Não estou a dizer que eu não tenha que ajudar os meus pais porque eles trabkham e assim, mas irrita-me isto. Eu sei que os homens também sofrem com o sexismo (e não só, com a homofobia também)por exemplo: Não podem chorar, são obrigados a ser fortes e não podem mostrar os seus medos… mas eu não tenho uma visão interna deste problema porque sou do sexo feminino.

nome

A mais recente, ainda esta semana, estou no carro no meio do trânsito, e um rapaz acena-me. Tal era o entusiasmo que uns metros mais à frente deu-se ao trabalho de pôr o braço todo de fora do carro para continuar a acenar. Um gesto simpático para uns, mas incomodativo para mim.