Maria Luz
Pois é, interessei-me por um oclega de trabalho, imaginem. Por interessada digo que sentia um atração física por ele e que queria saber mais de quem ele era, o que gostava, quais os seus planos, os pontos de vista… Sim, de facto penso que demonstrei o meu interesse, mas não de forma directa, convidando para um jantar por exemplo, porque fui educada a acreditar que uma mulher não o pode fazer. E assim, “indirectamente”, a coisa foi andando: com olhares, uma ou outro comentário mais explícito, algumas conversas online. Na minha cabeça pensei que em breve, talvez, houvesse desenvolvimentos (o tal jantar, mas por iniciativa dele claro!). Não, nada disso. Pelo contrário, fui recebendo alguns comentários menos próprios (Tens um grande rabo!), mas que fui relevando porque afinal “ele é homem, é normal” e que acabaram com ele a agarrar-me um dia (no tal grande rabo) , no nosso local de trabalho. “Tu não podes fazer isso”, disse-lhe eu. Dele veio um “Mas vais ao ginásio para quê? Não é para tocar?” que se seguiu de um momento de paralisação por incredulidade da minha parte. Não lhe falei nos dias seguintes, mas ele fingiu não saber o porquê. Depois disso, mudei de horário (por casualidade) e nunca mais o vi, mas ainda planeio fazê-lo ver o quão mal agiu comigo e, provavelmente, age com outras mulheres. Primeira conclusão: sexismo é um homem achar que por uma mulher ter demonstrado interesse nele a pode agarrar quando e onde lhe bem aprazer Segunda conclusão: sexismo é uma mulher aceitar comentários que a deixam desconfortável porque “eles são homens” e tudo é normal quando vem deles. Pior ainda, é ser assim tratada a ainda questionar se a culpa não terá sido sua. Terceira conclusão: sexismo é uma mulher ser educada a pensar que não pode dizer directamente a um homem que está interessada, mas sim enviar certos e determinados sinais que, no caso de o interesse ser recíproco, serão certamente correspondidos. Viu-se bem aqui como o foram…